
Era uma tarde comum de verão , em janeiro. Fim da tarde de um sol dourado e maduro, filtrado nas amendoeiras, e havia brisa. As pessoas passavam indiferentes. Algumas podem até ter reparado ligeiramente naquele casal parado na esquina . Ele já tinha falado quase tudo, durante quatro horas e meia na varanda do restaurante, dos medos, dos sentimentos e seus matizes, das vontades e do passado. Ela escutou atenta aos olhos dele, às mãos dele, ao peito dele entrevisto na camisa branca. Uma vontade tão grande de pegar nele, nas mãos, no peito, beijar-lhe a nuca e a boca. Mas ouviu atenta aquele relato transbordante, e amou a coragem dele. Aquele homem tinha vindo de longe e ela ficava imaginando ele sozinho naquele trajeto, vindo, vindo, só praquele encontro, onde muitas coisas difíceis precisavam ser ditas e muitos sentimentos precisavam ser vividos. Uma história que talvez pudesse começar ali. Uma parte da vida dele que talvez pudesse recomeçar ali. Um delicado reaprendizado de sentimentos frágeis.
Agora estavam na esquina,
esperando o táxi especial que vinha buscá-lo, após as quatro horas e meia de encontro, que afinal passaram tão rápido.
Foi quando ela se debruçou sobre ele, ela e seu vestido cor
da noite, comprado especialmente, ela e seu coração feito um corcel doido solto
no peito, e, se sentindo como a noite que acolhe o viajante, ela finalmente o
beijou na boca, ali, no meio da rua, de uma tarde comum, um beijo prolongado e
quente, que durou o tempo eterno e indelével
que duram todos os primeiros beijos, o tempo que não se mede nos relógios.
Ele foi colocado dentro do
taxi.
Ela saiu sem olhar pra trás. Na alma, o temor de
ainda ser capaz de tanta leveza e tanta doçura.
Procurou os óculos escuros na
bolsa e não estavam. Saiu andando. E andou, andou, andou até o Leblon, com o sol poente a
lhe fazer brilharem as lágrimas.