segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Só o Meteorito por Testemunha

Só o Meteorito por testemunha...
Cada vez que vejo as imagens do assassinato do museu, ouço os gritos dos seres que moravam lá dentro sendo consumidos pelas chamas. Dinossauros tomam forma pela última vez e rugem pro alto; a princesa egípcia sente a caixa de vidro que a protegeu por mais de 100 anos estilhaçar-se e os pedacinhos de vidro misturarem-se a seu frágil corpo mumificado ; afrescos pintados nas paredes e tetos tentam fugir e são tragados pela fumaça antes de derreterem em sangue de tinta escorrida; esculturas de mármore da fachada observam o prédio que as sustentou por 200 anos em desespero, sentindo sua pele de pedra queimar ao fogo sem poderem se mexer dali; Luzia que dormiu 12 mil anos no fundo de uma caverna esquecida, que nos olhava com olhos reconstruídos pela tecnologia de seus semelhantes milhares de anos depois, desaparece para sempre em questão de minutos em consequência do descaso desses mesmos semelhantes tão tecnológicos; ecoam ainda os gritos lancinantes de milhões e milhões de páginas escritas que representam outras milhões e milhões de horas das vidas de milhões e milhões de pessoas que se dedicaram a esclarecer mistérios, decifrar enigmas, provar cientificamente fenômenos que nos aterrorizaram por milênios, para que pudéssemos 'morrer menos pobres', menos pobres de conhecimento, de pensamento, de filosofia, nós, os imbecis, que fomos capazes de destruir tudo isso em poucas horas de uma noite fresca de fim de inverno, num dos lugares mais lindos do planeta: a cidade do Rio de Janeiro, no Brasil.


O resto é silêncio.