TANGO NA SUIÇA
Eu tinha 11 anos e estava na Suíça viajando de férias com meus padrinhos. Minha mãe depois contou que meu pai mal dormia de noite, pensando se estava tudo bem comigo, se meus padrinhos estavam cuidando bem de mim, se eu não estaria aborrecida e com vontade de voltar pra casa...
Eram obviamente tempos sem internet e celulares. E os cartões postais demoravam uma vida pra chegar.
Como ele era dono de uma agência de turismo, a Kamel Turismo, ele deu um jeito de comprar pra ele e pra mamãe passagens pra Zurich pra nos encontrar lá. Precisava ver com os próprios olhos se a filhinha dele estava bem.
Lembro deles 4 rindo às gargalhadas no restaurante do hotel porque meu padrinho havia me registrado como filha; só que ele era alemão ariano , louríssimo de olhos azuis, e eu aquela turquinha de cabelos muito pretos e sobrancelha cerrada. Tudo bem, até a chegada dos meus pais: a “filha” do alemão era a cara do amigo da família, que acabara de chegar!
Na noite seguinte fomos jantar num restaurante que tinha música ao vivo, um conjunto musical de piano, violino, contrabaixo. Tocavam jazz e ‘música de salão’. Até que atacaram de “Cumparsita”. Meu pai, criado em Jaguarão, na fronteira do Uruguai, dançava um tango como ninguém.
Solenemente ele se levantou, deu a volta na mesa e elegantemente me tirou pra dançar. Fomos pro meio do salão onde havia muitos casais de adultos dançando. Não era a primeira vez que tangueávamos , mas era a primeira vez em público. As outras vezes eram em casa, aos domingos, de farra.
Naquela noite , ele ia falando baixinho pra mim o que fazer: cruzar os pés na frente, rodar na frente dele, ir dando os passos pra trás, parar, olhar pro lado e andar... quando me dei conta, TODOS os outros casais pararam de dançar e abriram uma roda onde nós nos exibimos no meio. Me lembro até da roupa que eu usava: uma saia curta acima dos joelhos ( era o tempo das minissaias ) de pregas e um spencer do mesmo tecido, que era verde claro salpicado de branco e azul marinho. Meias ¾ e sapatinho preto. Lembro que eu achava que os músicos não terminavam nunca de tocar e eu já estava suando! Quando eles deram o acorde final eu caí pra trás nos braços do papai e ele me puxou de volta, no perfeito gran finale tangueiro!
Fomos aplaudidos por todo o restaurante!