sábado, 21 de julho de 2012

Carta na mesa


Rio,16-6-1964 (terça)
Criei coragem e agora coloquei a seguinte carta na mesa de cabeceira do papai:

“Querido paizinho
Já falei nesse assunto várias vezes com você. Por quê não larga o cigarro? Já sei que é difícil. Que é quase impossível. Mas você não diz que faz tudo para que tenhamos sempre o que há de melhor? Há alguma coisa melhor que você nesse mundo?
Paizinho. Peço-lhe encarecidamente. Você já pensou bem como nós ficaríamos sem você no mundo? O cigarro, está provado no mundo inteiro, que é o pior veneno que existe. Papai você é tudo para nós. Sem você, eu não sei como viveria. Vou fazer 15 anos daqui a pouco. Quero, como presente, que você largue o cigarro. Não pedi em cima da hora, não. Você  tem ainda um ano e meio, quase dois, para ir deixando. Pense bem. Nós todas o adoramos. Isto é por você e  também por nós. Por favor, paizinho. É a única coisa que eu quero de você. Não precisa festa, vestido, bolo, doces, nada. Não é fácil? Você tem uma força de vontade de ferro para tudo...viagens, negócios, tudo. Por quê não tenta com o cigarro? Você sabe, eu creio, que mal faz o cigarro. O pior mal do mundo. Um mal incurável. O câncer. É triste perder um pai por um vício à toa.
Não fique triste comigo, sim?
Um grande beijo da sua filha que lhe adora,
                                                                                                    
                                                                                                      AC
P.S: Não rasgue, ok?

Ele morreu de um enfarte fulminante, aos 41 anos, no dia de Natal , em 1967.

3 comentários:

Jorge Puga de A. Lima disse...

Porra, sem palavras...

Gladys disse...

O destino, maldito destino...

Ana Elisa Nadruz disse...

Apesar de ter estado junto com vc nessa campanha ... fumei por uns 30 anos e só consegui parar ha 7 meses, e ainda temo não ter sido em definitivo ... hoje sei como deve ter sido difícil pra ele não poder atender a um pedido seu <3